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Como já disse antes, pretendo evitar o perfil guru, orientador. O espaço é para dividir (ou seria unir?) o que ando aprendendo. Metade sem querer e metade por curiosidade o artigo pode sair. Estudando o método na literatura e a dialética materialista surgiu a "fusão" dos conhecimentos.
Algo brevíssimo, direto, antes de ir direto ao assunto. Eis: O materialismo dialético procura descobrir como funciona os mecanismos da realidade, sua dinâmica, sua lógica, seu desenvolvimento; estabelece uma série de leis e categorias básicas para facilitar o trabalho científico. Uma introdução pode ser positiva.
Agora sim, como prometido, as oito dicas (não colocarei em ordem decrescente, oras, mania!):
1. Em toda totalidade o conflito é a lei e ele promove o movimento
1.1. Ou seja, pense em um bom conflito para tua história. Um apaixonado, um inevitável, tão forte que você se verá obrigado a caminhar o enredo por estradas que desconhecia;
1.2. Os opostos estão sempre, de alguma forma, interligados: o antagonista e o protagonista, a culpa do passado e o "ser correto" no presente, a vontade egoísta e a necessidade coletiva;
1.3. Por isso, é importante EVITAR personagens perfeitos, só com qualidades, incríveis em demasia. Soa falso, irreal;
1.4. Lembremos de colocar conflitos secundários. Do protagonista com o aliado ou consigo próprio; idem para o antagonista.
2. A matéria, a realidade, determina os hábitos, a personalidade e o pensamento
2.1. Ou seja, os seus personagens devem ter uma razão lógica para serem o que são;
E mais:
2.2. Se algo importante ocorre, você espera que o teu herói continue sendo o mesmo do início do livro? Deverá mudar algo, uma atitude, uma pedaço de si, um pensamento, uma postura, etc.
3. Forma e Conteúdo
3.1. O conteúdo, a história, ganha forma, é claro, ao escrevê-la. Mas: já percebeu que tem aquele conto ou aquele capítulo que emperra, fica duro, não sai? Está perfeitinho na tua mente, e "sujo" enquanto matéria bruta. Pois bem. Pense uma outra forma de dizer a ideia. Um outro personagem conta, ou uma novidade na hora de estruturar, ou um jeito novo - só teu - de dizer.
O texto, vez em quando, nos exige ser parido com um jeito diferente.
3.2. Vejamos um lindo, genial, caso de sedução sexual/copulação em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de - é óbvio - Machado de Assis:
Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva
Brás Cubas . . . . . ?
Virgília . . . . . .
Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Virgília . . . . . . !
Brás Cubas . . . . . . .
Virgília . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Virgília . . . . . . .
Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . . . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !
Virgília . . . . . . . . . . . . . . . . . ?
Brás Cubas . . . . . . . !
Virgília . . . . . . . !
O modo de dizer com o não-dito. Imaginamos o resto (olha a safadeza...).
[Curiosidade: O Nome Brás é uma abreviação de Brasil, Cubas referencia um meio para carregar ouro. Memórias Póstumas do Brasil Rico. Forma de crítica sutil...]
4. Quantidade e Qualidade | do Simples ao Complexo
4.1. Escreveu o livro? Certamente é um livro ruim. Calma. O que faz o escritor não é o ato de escrever. O escritor é, principalmente, um revisador disciplinado. Revisa, revisa, revisa. Apara, corta, coloca, tampa os buracos, melhora. 10, 20 vezes.
Tudo começa ruim, mal-feito, defeituoso. A insistência é o que promove um salto, algo realmente bom, uma qualidade nova a partir do acúmulo de mudanças. Perceberá quando ocorrer.
5. Necessário e Desnecessário
Não é preciso explicar. Mas podemos acrescentar algo: na trama, algo inútil pode ser desenvolvido para que se torne essencial. Ou aquilo que o leitor despreza e no final - nossa! - faz a diferença.
6. Aparência e Essência
Os termos explicam que a aparência, quase sempre, mente. Quer dizer, quando vamos investigar algo a fundo percebemos que era o contrário do que imaginávamos. Quantas vezes já passamos por isso? Quantas vezes fomos enganados e manipulados? Chegou a hora de manipularmos as sensações do leitor, ele agradecerá. Podemos também contar a história sem uma noção clara de realidade, por um ponto de vista particular (da criança, do inimigo, de Deus, da xícara-de-chá).
7. Concreto e Abstrato
Se o escritor gosta de esquemas, jornada do herói: beleza. Está pegando abstrações, modelos. A tarefa, portando, neste caso, é colocar a carne, a vida própria e a criatividade (sempre). Produzir até o modelo-esquema ficar invisível, diluído, na base. Assim, o futuro leitor não achará em ti a mera imitação de outras obras. Também - e é algo belo - pode-se criar muito mais livremente ou subverter, ou descartar, ou alterar este e aquele elemento.
8. As combinações geram o novo
Chama-se, tecnicamente, "lei do desenvolvimento desigual e combinado". Resumindo (por falta de espaço/tempo): algo novo, da criatividade, surge da cominação de informações diferentes. Por isso, é importante ler, ter grandes experiências, praticar e, de novo, ler, ler tudo (de qualidade).
Daí virá a criatividade. Tua mente combinará informações permitindo o surgir de novas. O processo de combinação pode ser também - e inclusive - consciente.
É isso. Bom dia do trabalhador e bom dia das mães.
João Paulo da Síria
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