segunda-feira, 13 de abril de 2015

VIVEMOS UM "NOVO ROMANTISMO" NA LITERATURA

Uns dos (poucos) livros geniais dessa escola

O título, é claro, deveria ser uma pergunta. É uma questão aparentemente em aberto. Sem esgotar o tema, vamos apresentar elementos que nos apontam esta tese: um novo romantismo já foi não só inaugurado como está em pleno processo de esgotamento.

O antigo e o novo romantismo têm o mesmo combustível estimulante e total: a satisfação do mercado. O original  era voltado às moças dondocas, desocupadas, ricas e letradas, tinha linguagem fácil, jovem, saía nos jornais, com temas comestíveis. Representaram, no brasil, a fase imatura da literatura nacional.

Hoje o mercado mundial tem a mesma função. Uma verdadeira "escola americana" adestra escritores em todo o planeta. "Assim causa empatia no leitor"; "escreva diálogo de forma assado"; "a estrutura tem que ser do jeito acolá" (jornada do herói?); "olha isso aqui, desse jeito". A lógica é uma só: vender, vender, vender. Mais precisamente: dinheiro, dinheiro e fama. Para esse fim, toda a técnica e linguagem são produzidas em torno de fórmulas universais que facilitam a leitura.

Na poesia também há algo semelhante ao antigo romantismo. O original pregava a "liberdade de inspiração", mas apenas era um discurso ideológico e de propaganda. Na prática, usava-se técnicas.

A atual poesia romântica coloca a ideia em prática. Tem as seguintes características:

1. conteúdo de autoajuda/amor/otimismo;
2. foco em trocadilhos/frases de efeito;
3. Poemas curtos, fáceis de ler, rápidos, no ritmo da internet;
4. pobreza técnica;
5. rimas simples;
6. individualismo integrativo (na linguagem vulgar: fofo);
7. uso da linguagem leve e semi-erudita, semi-pobre.

(Detalhe importante: coloco características observáveis, não é julgamento.)

Na prosa há mais diferenças. Apresentaremos, para comparação, em oposição, de um lado, o antigo e, de outro, o novo:

Nacionalista / Internacionalista 
(Ex: Anjos e Demônios, A menina Que Roubava Livros, O Caçador de Pipas)

Formal / Foca no aspecto psicológico

Dupla amorosa / Pode haver Triângulo Amoroso

Erotismo (semi)passivo / Erotismo complexo, ativo (50 Tons de Cinza)

Literatura sobre temas medievais / Literatura sobre temas medievais fantástica e/ou semi-realista (Guerra dos Tronos, etc.)

Personalidades lineares / Personalidades complexas

Crítica social aberta / Uso de metáforas, ficção científica, fantasia, perspectiva subversiva, otimismo revolucionário

Individualismo / Relação indivíduo-coletividade 
(Divergente, Harry Potter, Jogos Vorazes, etc.)


COMO O CONTEXTO SOCIAL IMPULSIONOU O NOVO ROMANTISMO?

1. Primeiramente, a queda das utopias socialistas (Muro de Berlim) estimulou ideias pós-modernistas, fragmentadoras, sentimentalistas e definhamento da moral nas relações sociais.

Isso, por um lado, permitiu personagens mais complexos, profundos e o tratamento psicológico;

2. A globalização impulsionou o internacionalismo;

3. A menor repressão à liberdade sexual, a fluidez das relações (tempos líquidos) e, mesmo, o individualismo estimularam o novo romantismo e o conceito de amor triplo;

4. As lutas antiguerras (Iraque e Afeganistão), a crise econômica mundial, o novo renascimento das ideologias igualitaristas e as revoluções em todo o mundo trouxeram "o romantismo social";

5. Na poesia há uma degeneração dos conceitos do concretismo e da poesia marginal de Paulo Leminski. Vive uma influência direta do pós-modernismo, da suposta fluidez do que é e não é arte (bastaria, assim, nessa lógica, por exemplo, escrever em formato de verso e já há um poema);

6. Influência da lógica e do ritmo do meio eletrônico e da internet;

7. O mais importante: o mercado de livros, desde os EUA, procurou criar uma verdadeira escola literária comercial e rígida. Tal meta é possível desde que o mundo consolidou uma extrema urbanização e toda uma nova geração (semi)letrada e numerosa.

Como se vê, no atual romantismo existem subdivisões, fases análogas ao antigo romantismo (primeira, segunda e terceira fases).


CONCLUSÃO

A escola literária não pode ser ignorada em nome de uma intelectualidade boicotante. Existe de fato.

Livros como os de J.R.R. Martin, por exemplo, merecem um lugar destacado na história da literatura. Outros, o tempo descartará.

João Paulo da Síria.

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