terça-feira, 2 de junho de 2015

ENGENHEIROS DO HAWAII: RUPTURA COM O ROCK "CAFÉ E LEITE"



Dia desses tive contato com a matéria do The New York Times, 1991, fazendo o contrário da crítica tupiniquim: elogiou - e muito - a presença dos Engenheiros do Hawaii no Rock In Rio II. Todo fã pensa, de cara, rápido, os porquês diabos de algumas críticas nacionais. A lentidão perceptiva dos avaliadores brasileiros vem, entre tantas coisas, no argumento daqui, de um passado na música nacional: Rock café e leite ou, simplesmente: iê-iê...

No princípio era a Jovem Guarda. Um rock romântico, fofo, letras óbvias, rimas simples, erotismo quase inocente, musicalidade típica, iê-iê e tal. Era a fase inicial daquela novidade. Produziu material fraco, mas também - ainda bem! - toda uma geração genial, de Os Mutantes à Raul Seixas.

Mas veio, aí, a década  de 1980, a terrível. Se o mundo não era mais o mesmo, por que o Rock deveria ser? O mínimo que ocorre a um som subversivo é evoluir-se, do simples ao complexo. Vieram as letras (muito) fodas do Legião Urbana, a poesia de Cazuza. MUDARAM o Rock brasileiro. 

Mas, ainda, fizeram uma forte ruptura parcial, incompleta. A total, completa - tam-tam! - está resumida e subjetivada em um ser humano: Humberto Gessinger. Engenheiros do Hawaii consolidou o que os "poetas do rock" iniciaram, a ruptura com o Rock iê-iê, café e leite.

Chega de solos de guitarra "mais ou menos"! Augusto Links, no dedilhar e nos acordes,  mostra a racionalidade criativa! Chega de bateria mediana! A explosão emotiva de Carlos Maltz move a platéia! Chega de letras comestíveis, pré-cozidas! Humberto Gessinger leva, às composições, a sofisticação da MPB da década de 1970. Canta. Move. E ajuda a pensar. Falar de amor não é mais só escrever "eu te amo e linda". É dizer "tudo queimava e nada aquecia! E ela apareceu e parecia tão sozinha e parecia que era minha aquela solidão!".

Vai ter metáfora sim! Vai ter aliteração sim! Vai ter trocadilho sim! Vai ter citação literária sim! Vai ter jogo de sentidos sim, oras! 

Rompendo o eixo Rio-São Paulo, das terras frias vieram três rapazes que só queriam fazer do jeito deles e foda-se.

A moda é bateria ativa? Faremos Terra de Gigantes só com o violão! A moda são as letras curtas? Infinita Highway! A moda é encher de sons e músicos? Trio já! Se é pra fazer bem feito, que seja do jeito do artista e pronto.

A crítica especializada e pedante não entendia. Meu Deus, como assim o público vai à loucura? Como assim um guri de 15 anos parece entender e sentir este som mais do que eu e meu prestígio e meu diploma?

Mais nunca, desde aquele dia, continuamos a mera sombra deformada da sonoridade internacional. Os "de Fé" descobriram o sabor novo, viciante.

Temos o Rappa, a Pitty, os Detonautas para consolidar a revolução. E assim se fez o novo testamento, ruptura-continuidade do Rock brasileiro, a nova aliança e o Papa é Pop. Que a nova geração seja autônoma e continue a criar e recriar!

O gaúcho respondeu, aos iluminados da "crítica crítica", por um meio épico, genial, original e aqui:



Adiós,
J. P. da Síria

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